
Em Moby Dick, de Herman Melville, refeições partilhadas evocam calor e luz em oposto à escuridão e ao frio. Numa acolhedora estalagem na gélida Nantucket, Ishmael e Queequeg, o canibal fijiano, saboreiam uma sopa de amêijoas, tal como haviam partilhado uma cama quente em New Bedford, numa rigorosa noite da Nova Inglaterra. Ishmael observa que para apreciar verdadeiramente o calor, é preciso sentir-se “a única faísca quente no coração de um cristal ártico”.
Em contraste com esta imagem de união, o capitão Ahab lamenta o seu isolamento, comparando-o à vida em comunidade que poderia ter tido, não fosse a sua obsessão pela baleia branca. A metáfora alimentar surge na sua reflexão sobre o pão partilhado, símbolo de comunhão: “Quando penso na vida que levei; na desolação da solidão; no claustro amuralhado da exclusividade de um Capitão, que admite pouca simpatia do mundo exterior – oh, cansaço! Peso!… e como durante quarenta anos me alimentei de comida seca e salgada – emblema da árida nutrição da minha alma! – enquanto o mais pobre marinheiro tinha fruta fresca diariamente e partia o pão fresco do mundo, em contraste com as minhas migalhas mofadas… ai, ai! Que tolo de quarenta anos – tolo – velho tolo, Ahab tem sido!”.