
A palavra “mercearia” tem as suas raízes no início do século XV, derivando do termo francês antigo grossier, que, por sua vez, provém do latim medieval grossarius, significando “grossista”. Na época, o merceeiro era aquele que adquiria grandes quantidades de produtos alimentares e os revendia em porções menores diretamente aos consumidores. Este modelo de comércio foi essencial para o abastecimento das populações, especialmente em períodos de crescimento urbano e expansão comercial.
Nos Estados Unidos, durante o século XIX, a expansão rural trouxe consigo os postos de troca, que desempenhavam um papel crucial no fornecimento de bens essenciais aos colonos. Estes postos, localizados em áreas remotas, evoluíram gradualmente para lojas gerais, que ofereciam uma variedade de produtos secos, como farinha, café, açúcar e feijão. Nessas lojas, os clientes solicitavam os produtos desejados, e os funcionários, posicionados atrás do balcão, pesavam e embalavam as porções individualmente. Até ao início do século XX, o comércio alimentar era caracterizado por uma forte especialização: os consumidores precisavam de visitar diferentes estabelecimentos, como o talho, a padaria, a peixaria ou a frutaria, para adquirir os produtos necessários.
Uma mudança significativa no comércio alimentar ocorreu em 1916, quando Clarence Saunders, em Memphis, Tennessee, registou a patente do primeiro “Armazém de Autoatendimento”. No seu pedido, Saunders descreveu a sua ideia como uma forma de permitir que os clientes visualizassem todo o inventário disponível, organizado de forma apelativa, e escolhessem os produtos por conta própria. Este conceito inovador deu origem à abertura da primeira loja Piggly Wiggly no mesmo ano. Os clientes entravam por um torniquete e percorriam os corredores, onde podiam examinar os produtos, já etiquetados com os respetivos preços, antes de pagarem na caixa. Este modelo revolucionário rapidamente ficou popular, e, em 1932, já existiam 2.660 lojas Piggly Wiggly. Outras cadeias e lojas independentes adotaram o sistema de autoatendimento, que reduzia os custos com mão-de-obra e aumentava as vendas, ao mesmo tempo que incentivava o crescimento dos produtos pré-embalados e de marca.
Outro marco importante na história das mercearias foi a ascensão da Great Atlantic & Pacific Tea Company, mais conhecida como A&P. Fundada em 1859 como uma cadeia de lojas de chá e café, a A&P expandiu-se rapidamente, tornando-se uma cadeia de mercearias consolidada no final do século XIX. Em 1912, a empresa introduziu o conceito de “loja económica”, oferecendo alimentos a preços reduzidos. Este modelo foi um sucesso, e, em 1915, a A&P já contava com 1.600 lojas. Em apenas 15 anos, tornou-se a maior retalhista do mundo, com 16.000 lojas e vendas anuais de 1 bilião de dólares. Contudo, a sua relutância em adotar o modelo de autoatendimento contribuiu para o seu declínio a partir da década de 1950.
O conceito de supermercado moderno começou a ganhar forma em 1930, quando Michael C. Cullen abriu a primeira loja King Kullen, promovida como o “Primeiro Supermercado da América”. Este novo modelo de loja destacava-se pelos preços baixos, pela ausência de serviços como entregas ao domicílio e pelo foco em pagamentos exclusivamente em dinheiro. Além disso, as lojas eram amplas, com grande capacidade de estacionamento, o que as tornava convenientes para os consumidores. Nos anos 50, com a popularização do automóvel e a migração para os subúrbios, o hábito de realizar compras em grande escala consolidou-se. O autoatendimento, aliado à eficiência na distribuição e à produção de marcas próprias, resultou em preços mais acessíveis, marcando o início da era dos supermercados tal como os conhecemos hoje.
Este percurso histórico demonstra como as mercearias evoluíram de pequenos estabelecimentos especializados para grandes superfícies comerciais, adaptando-se às necessidades e hábitos de consumo das populações ao longo do tempo.
